Chuva que chega devagar
Ouço-a no parapeito da sacada
Enquanto bebo café preto
E relembro os momentos eternos
Em que perdi meus amigos...
Chuva que rateia minha agônia
Sonda-me com tua brisa cálida
Não tenho os pulsos da calma
Para saber quão estival é teu drama
Se mesmo após a noite
E todo o algoz dia
Eu penso em minhas liras
De glória e desesperança
Não quero ser descartado
Em um mundo de plástico e concreto
Em um mundo de projetos de fetos
Nascidos de cápsulas hiperbólicas
Na vertigem de humana frota
Dos cegos que estão presos nos labirintos da escuridão
Não quero ser impossível
Mesmo nesse som da chuva pálida
O retrato daquela praça em meio ao nada
Na gravura das cordas do teu velho violão
Sufocando com cada nota o câncer
Que se formou cedo em meu peito
Amigos que morreram para a vida
Amigos que morreram para a morte
Amigos que morreram na ferida
Amigos que morreram para o Norte
Eu estive aí, com vocês em um tempo
Agora estamos presos por fios
Ligados na parede nós conversamos
Em bytes cinzas para o labirinto onde os cegos se perderam...
Igan Hoffman
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