sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Jesus Salve os chateados

Não escrevo poesia quando estou chateado
Não é possível obter inspiração da chatice
Imagine quem lerá algo escrito assim
Sem vontade de o fazê-lo!
Vomitar no papel meia dúzia de palavras amorfas
Palavras que transmitem o fervor da incomodação,
Estar tão desgostoso que dormir não resolve.
Acabar com tudo numa poesia sem graça,
E decidir ser sarcástico o resto da vida.
Jesus Salve os chateados!
Porque é um sentimento sem culpa
Que faz você parecer culpado.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

À Beira do Tempo

Beira no tempo uma passagem inspirada
Em um número que ninguém sabe o que pode ser
E há tantas histórias tão dispersas
E há tantas falsas pessoas neste mundo

Se esta é mais uma farsa
Começo a pensar que somos personagens
De algum experimento secreto
Sem chance de escapar...

Não quero acreditar que possa haver
Tanta desimportância com assunto tão sério
Meus pensamentos são os mais austeros
Quando se trata da insigna história

Mas se tudo for como imagino
É um mero nonsenso tentar ser algo
E existir é já carregar um fardo
De inescrupulosos pesadelos...

Ontem, em meio a estes devaneios
Eis que brotou do meu íntimo uma luz
Que resplandeceu em meu rosto e acendeu meu espírito
Se não for por um tempo tosco novamente
Será a mais perfeita das curas já empregada
Uma luz de pura sabedoria que ensinava
Que existe ao menos um modo certo de viver a vida
Um modo em que ela ainda pode ser vivida
E não é nada disso que eu tenho experimentado até então
Mas sinto em meu antro que será a solução
De toda a desesperança nessa Terra vã.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

AS FLORES DO MAL



Fulgurante escultura
Que aguça meus instintos baudelaireanos
Faz eu imaginar os próximos anos
Em tão sonhada formosura

Nos teus gestos tão delicados
Na tua boca provocante
Nos teus cabelos molhados cintilantes
Eu perco-me aos bocados

Mas, o destino, o que é o destino
Para que nele pensemos?
Sou um deus clandestino
Sob o plasma limitante da visão
À contemplar essa fugaz Afrodite
Em meu devastado coração

1º de outubro de 2007

sábado, 7 de agosto de 2010

Insipidez do Tempo

Tempo que passas
Velho escasso!
Lembro-me no Paço
Onde podíamos contemplar.
Na hora vespertina,
Embaixo daquela árvore...
Será que te recordas?
A memória com o tempo atrofia;
E é certo que não temos mais tempo
Então, como lembrarás?
Não nos entristeçamos por isso;
Novos caminhos há de serem trilhados.
E você estará lá do lado de lá.
Se ao menos tivesse notícia sem ciúme!
Se ao menos pudesse conservar um pouco
Desse tão pouco que foi muito!
Mas não, não, não.
A vida é deixada aos pedaços,
Na morte as feridas cicatrizam
E de nós nada fica senão cansaços.
Cansaços de tentar vencer o invencível,
De tentar levar para casa o cinzeiro do bar
E ficar sempre sem ter onde depositar a cinza
Essas cinzas sem horas.

Parede de Esmalte

Nessa insone madrugada,
Negra como o café que despejo cuidadosamente na xícara às seis da manhã
sem aqueles glóbulos translúcidos na orla do líquido em contato com a parede interna de esmalte, é claro!
Percebi, sem querer perceber, a minha vida afundando
Numa barquinha ingênua conduzida por um espírito covarde, bêbado, tresloucado
Afundando, afundando, afundando...
Como se resolve-se todos o problemas do mundo, do universo, da consciência e filosofias, e metafísicas e tudo
no simples ato de afundar.
Por que tudo pode poder parecer alguma coisa que não aquilo mesmo que parece?
Que há mais vida nas coisas que não são vivas, do que nesse ser: inerte, humano, terrestre...
capaz de viver num quantum de luz.
Ser obsoleto, futurista, nos três tempos, na morte.
Por que morrer, se já não tens onde ir?
Por que constranger-se por estar entre gente se nunca estivesse em parte alguma, oh, nascido do vácuo?
E não há gente, há apenas excesso.
Com efeito, todo excesso para mim é falta e toda falta solução.
Toda noite para mim é dia e na madrugada o verme rasteja em páginas amarelas
deixando apenas o rastro cintilante de uma coisa que não é nem talento nem brandura, nem mesmo desejo de ser, quanto mais o ser verme triste caótico.
Às seis da manhã começou a chover